Sobreviver em cidades grandes é uma coisa séria e bem complicada. O rítmo frenético, mesmo
fora das baladas, que este tipo de vida nos submete, é simplesmente
desgastante, prejudicando toda a nossa boa qualidade de vida no nosso último
quarto de vida.
Tudo começa bem cedo, quando nos tiram aquela maminha gostosa que estávamos
acostumados a sugar, e nos dava uma sensação de conforto, paz, conseguindo,
inclusive, alem da nutrição saudável e protetora, saciar nossa fome. Era tudo
que desejávamos naquele solene momento de encontro da cria com a criadora,
nossa mãe. Todos os mamíferos passam por esta fase, salvo alguns, como eu, que
era obrigado a beber leite de cabra, pois naquela época não tinha ninguem
para orientar minha mãe, que por causa
do estresse e sua péssima qualidade de vida, consequente e indevida forma de se
alimentar, o leite dela secou. Foi quando conheci a primeira cabrita na minha
vida. Eu via minha mãe, comigo no colo, espremendo suas tetas, de onde
espirrava leite, ela me observava feliz, pois estava se sentindo útil na vida.
Mais tarde ficaríamos bons amigos e brincaríamos juntos, correndo pelo pequeno
quintal.
Assim que dava meus primeiros passos, levantáva-me e corria, devagar, como todas os
bebês crescidinhos. Com uma das mãos sobre minha amiguinha cabra e a outra
amparado pela palma de minha mãe eu andava bem rápido, parecia correr. Era o
inicio de uma boa amizade que acabaria um dia, e eu, sabendo de nada, inocente
na vida, nem aí estava, queria mesmo era curtir bem aquele momento, até a próxima
mamadeira. Era isto que, as vezes, minha velha mãe me contava, repetidas vezes,
bem antes de morrer. Uns tempos atrás conhecí, numa novela do Caribe, a Ariana
de Candinho, uma cabritinha, bem serelepe e faceira, curtí muito, até os
últimos capítulos, invejando sempre o personagem, colocáva-me no seu lugar,
como se o artista eu fora; matava assim a saudade de minha cabritinha querida
e, ao mesmo tempo, vivendo a vida que não pude viver, pois três anos depois do
meu nascimento meu família mudou-se para a cidade grande, levando-me a
tiracolo; era o início de uma nova era, já era minha cabritinha! adeus, minha
doce e pobre vidinha.

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